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Medicina e Arte: a doença do Corcunda de Notre Dame

Em O Corcunda de Notre Dame, como é popularmente conhecido o livro Notre Dame de Paris (1831), de autoria do romancista francês Victor Hugo, encontramos no capítulo V do livro primeiro o seguinte trecho:

Não tentaremos dar ao leitor uma idéia desse nariz tetraédrico, dessa boca recurva como uma ferradura; desse pequenino olho esquerdo obstruído por uma sobrancelha ruiva e áspera como tojo, enquanto o olho direito desaparecia completamente sob a enorme verruga, dessa dentadura desordenada, aqui e além brechada, como as ameias de um forte; desse lábio caloso, por sobre o qual avança um desses dentes como uma presa de elefante; desse queixo fendido; e principalmente da fisionomia diluída sobre tudo isto; desse misto de malícia, de estranheza ou de mágoa […] Uma cabeça gigantesca, eriçada de uma cabeleira ruiva; entre os dois ombros uma bossa enorme que, com o movimento, fazia vulto por diante; um sistema de coxas e pernas tão singularmente descambadas que apenas se podiam aproximar pelos joelhos e que, vistas de frente, pareciam duas lâminas recurvas de foice, unidas pelo cabo; pés largos, mãos monstruosas […] Dir-se-ia um gigante despedaçado e inabilmente recomposto.[…] Quasímodo não respondeu; Era, com efeito, surdo.”

Cena do filme “O Corcunda de Notre Dame”, de 1939.

Observando a descrição detalhada que o autor faz a respeito de Quasímodo, é evidente supor que a grave deformidade física do personagem central deve-se às manifestações da sífilis congênita precoce e tardia, doença que nos acompanha desde a Antigüidade até os dias atuais, representando atualmente no Brasil nova epidemia.

O nome “sífilis” surgiu em 1530, quando o médico e poeta italiano Girolamo Fracastoro, ao descrever a enfermidade, fez referência ao mito grego do pastor Syphilus, que amaldiçoou Apolo e foi punido com o que seria uma doença venérea.

Segue a descrição médica do texto literário:

Nariz Sifilítico ou em Sela – “Nariz tetraédrico”
Microftalmia – “ pequenino olho esquerdo”
Ptose palpebral – “o olho direito desaparecia completamente sob a enorme verruga”
Fronte olímpica – “Uma cabeça gigantesca”
Dentes de Hutchinson – “dentadura desordenada, aqui e além brechada”
Cifose – “entre os dois ombros uma bossa enorme que, com o movimento, fazia vulto por diante”
Genu Valgum – “Um sistema de coxas e pernas tão singularmente descambadas que apenas se podiam aproximar pelos joelhos e que, vistas de frente, pareciam duas lâminas recurvas de foice, unidas pelo cabo.” Também classicamente descrito como “tíbias em lâmina de sabre”.
Acromegalia – “Pés largos, mãos monstruosas”
Surdez neurológica – “Era, com efeito, surdo.”

Além de todo o comprometimento sistêmico, a Sífilis Congênita pode afetar os olhos de diversas formas, além das já descritas, como: uveíte anterior, neurorretinite, ceratite, esclerite, episclerite, neurite e pupila sifilítica de Argyll Robertson – doença em que a pupila reage mal à luz.