O cofundador do Impressionismo francês, Camille Pissarro, sofreu de dacriocistite crônica por pelo menos quinze anos. Isso o impediu de trabalhar por longos períodos de tempo e influenciou decisivamente seu método de pintura. O pintor se adaptou à situação; incapaz de trabalhar ao ar livre, pintava dentro de casa, próximo às janelas. Suas paisagens urbanas de Rouen e Paris criadas ao longo dos próximos anos foram triunfos. Em 1897, Pissarro escreveu uma carta a seu filho Lucien dizendo: “Tenho medo de complicações para meu olho. Há 12 dias vou a Parenteau (seu médico oftalmologista), que tem me cauterizado e colocado um adstringente nas veias do olho… Parenteau me deu gotas de nitrato de prata para colocar no olho e nas pálpebras. Isso não é fácil. Toda manhã há mais pus no olho, então não ouso arriscar uma viagem. Sua mãe me aconselhou a não sair.”
No final do século XIX uma nova era na cirurgia lacrimal estava sendo desenvolvida, enquanto Pissarro estava sendo tratado por meios conservadores. Toti, na Itália, reviveu métodos antigos de drenagem nasal, quando publicou seu procedimento de dacriocistorrinostomia um ano após a morte de Pissarro (1904). Toti colocou o saco lacrimal aberto em contato com a mucosa nasal por meio de uma abertura óssea, o que é a base da cirurgia atualmente realizada.
O histórico do caso de Pissarro tipifica os comentários de Duke-Elder sobre a inflamação do saco lacrimal: “A história do tratamento da dacriocistite é interessante não apenas por causa de sua antiguidade e dos muitos expedientes que em vários momentos foram tentados desde a era do Código de Hamurabi (c. 1800 a.C.), mas também porque exemplifica vividamente a tendência dos avanços no conhecimento se moverem em círculos em vez de em linhas retas. Há poucas coisas sob o sol que são realmente novas. A história certamente serve para mostrar como curiosa é a engenhosidade do homem e quão grande é a tolerância de um corpo doente.” (Duke-Elder, 1924).
Demonstra também o quanto algo aparentemente banal pode ter impactos significativos na saúde, até de um gênio da pintura.
(Camille Pissarro. Le Pont Boïeldieu à Rouen, 1896. Huile sur toile, H. 54 ; L. 65 cm avec cadre H. 78,5 ; L. 89,5 cm. Musée d’Orsay – Paris)
(Ref.: Ravin, J. G. (1994). Pissarro, dacryocystitis, and the development of modern lacrimal surgery. Documenta Ophthalmologica, 86(2), 191–202.)